quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Mar Adentro



Mesmo adormecida, sentia o cheiro do mar.
Dali, era possível ouvir o som das ondes se quebrando.
Decidiu caminhar até lá.
...
O primeiro toque da água em seus pés causou um arrepio profundo, mas ela não se recolheu. Continuou adentrando o mar.
A cada onda que quebrava, sentia-se mais leve, como se as preocupações se esvaíssem uma a uma.
...
Quanto  maior a distância, maiores eram as ondas e mais cruéis elas se tornavam.
...
O mar a puxava violentamente, como se quisesse puni-la por tamanha energia negativa que nele depositara.
Pela primeira vez, temeu.
Pela primeira vez seu coração palpitava diante da iminência de seus medos.
Pela primeira vez, a ameaça lhe pareceu perigo, mesmo que não o fosse.
Mesmo que não o fosse, continuar vivendo lhe parecia a melhor opção.
Pela primeira vez, vida.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Gaiola


A ideia era essa: tão bonito que o quero perto de mim.
E assim nasceram as gaiolas.
Tolos. Mal sabem que a verdadeira beleza dos pássaros é a liberdade de seu voo.
Há, ainda, aqueles que periodicamente os libertam para que não fiquem restritos ao pequeno espaço. Entretanto, cortam suas asas para que não possam alçar voo.
Alimentam suas esperanças e depois as tiram, como se tira o pão do faminto, a água do sedento, o amor do solitário.