sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Âncora


Aquilo, para mim, era tudo.
Inconscientemente, era como o oxigênio que alimentava meus pulmões, como a primeira gota d'água da chuva no sertão.
Estar ali simplesmente me fazia sentir como se estivesse sob o sol mais aguardado num dia frio de inverno.
De certo, havia incômodos, como quando o ar está tão seco que as narinas sangram, como quando a primeira gota d'água se transforma em um verdadeiro dilúvio, como quando a combinação do sol de inverno com o vento gelado queimam a pele das bochechas e dos lábios.
Esses incômodos apareciam todos os dias. É claro que causavam aquela pontinha de irritação, angústia. Mas, ao mesmo tempo, não superavam o sentimento de plenitude que me proporcionava estar ali.
A combinação de sentimentos opostos era estranha. Me confundia. Era "como se fosse algo deitado no fundo de um oceano calmo".
A visão enturva, aos poucos. Os músculos tremem, a cabeça dói, os olhos se enchem de lágrimas e o nó aperta.
O corpo pesa. Não (h)á fundo.