terça-feira, 23 de julho de 2019

Sonho n° 15 - Escada



Entrei no corredor vindo de lugar nenhum. As luzes artificiais, fracas. O ambiente, cinzento. Andei até a beira da escada para o segundo andar, antecedida de grades pintadas com tinta verde-escura. Minha mão esquerda tocou o brilho plástico e puxou o ferro frio. Dobradiças rangeram.
O primeiro lance de degraus da escada cinza esverdeada localizada à esquerda escalava-se, partindo da base térrea escurecida até a curva anterior ao segundo lance, iluminada parcialmente por passagens vazadas dos blocos ornamentados da parede que se opunha a ele. A luz entrava, branca e fria, e irradiava por trás da figura ofuscada em pé no terceiro degrau. Pernas cruzadas, ombro direito apoiado na parede, a cabeça enfraquecida por pensamentos pungentes também encostada. Os olhos nulos, lábios retos, expressão estática.
Dei um passo na direção do primeiro degrau. A indiferença chamou meus olhos, que se voltaram diretamente aos seus. Era terra úmida, perene, vazia.
Minha boca se abriu e algumas palavras saíram dela. Algo talvez corriqueiro, balbuciado timidamente.
Dessa vez, foram os seus olhos que se voltaram a mim. Agora, uma terra castigada por uma chuva torrencial. Afogada. Turva.
- Não tenho porque viver.
E me atingiu as barragens. Enchente catastrófica que corria para dentro de todos os receptores de sentidos - eles eram dutos em uma inundação. Uma tristeza que escorria as escadas, esgueirava as paredes, irradiava como a luz fria na curva da escada. Cada gota percorrendo um caminho subterrâneo e duvidando de seu próprio retorno. Sozinhas em milhões.
Meus braços envolveram seu pescoço. A expressão não mais estática, e sim ondulada. O ambiente, cinzento. Meu rosto encostando o seu. Toda uma atmosfera soturna que nos engolia. E pulsava. Azul e verde.
Mas cinza no final.