segunda-feira, 9 de abril de 2018

Intemperismo (+18)


Se você me tocar, meros intemperismos sairão de tuas mãos?
Se apenas teu hálito quente em minha orelha desponta convergências, e sísmicamente,
Estremeço.
Montanhas se erguem. Rígidas.
É magma que corre em minhas veias, quando cheias de calor tuas mãos vêm. E vão.
Sem chão, imploro sedenta. Dorsal que queima. Divergência, fissura escaldante.
Bem. Fundo.
É rio que cai. Oceanos escorrem entre rochas, num vale sem fim. Inebriante, canta e atrai.
Mais. Fundo.
Quero até o último grão de areia. A última gota de chuva. Quero morrer afogada nos teus olhos firmes. Ácidos.
Olhos de tempestade que sabe para onde vai. Enveredando por caminhos ensolarados e tornando turvas todas as coisas.
Não consigo respirar.
Olhos que caçam. Presas direto no pescoço, mortal. Gemidos, último suspiro.
Instinto animal.
Mas não és o topo da cadeia alimentar, lobo. Com voracidade, paixão, te capturo com as garras e te prendo de repente.
Entre mim e o chão.
E a rocha, o oceano, o magma, chuva, tempestade, montanha, fissura. Lobo e raposa. É tudo uma coisa só.
E o prazer crescente, incandescente, como enchente transborda. E explode.
Em mil vulcões.
Água e fogo.
Não respiro.
Estou.
Em.
Êxtase.
Cai uma árvore atingida por um raio. Sobre um peito ardente, úmido e pulsante. E permanece, serena, se desfazendo.
Em incontáveis.
Raízes.
Que permearão em tuas rochas.
Em um intemperismo sem fim.