domingo, 22 de novembro de 2015

Rato na roda


O despertador toca anunciando mais um dia.
Lá vai ela levantar-se mais cedo do que o necessário para cumprir seus afazeres, repeteco de sempre, rato na roda.
Involuntariamente, a cada dia que passa, mostra mais um pouco de seus espinhos.
Acontece que, naquele dia, eles foram expostos de tal forma que geraram cicatrizes, das quais não se tem prévia de desaparecimento.
Entre aquelas vozes interiores e exteriores, sua única segurança foi por ela dispensada, sem ao menos pensar que talvez, mais tarde, fosse necessária.
E foi, minutos depois.
Mas nada mais poderia ser feito.
Naquele momento, ela viu tudo desmoronar, em câmera lente, intensificando seu sofrimento diante da realidade dura e inevitável.
Não havia nada que a segurasse, nada que a mantivesse presa a chão, nenhuma âncora: navegava "até o mundo se dobrar, sumindo no horizonte".
E então, aquela situação que parecia durar para sempre acabou de súbito, seguida por uma dor aguda e por um medo daquilo que já passou que a dominava de tal forma que parecia que a cada segundo a sensação era revivida, repeteco de sempre, rato na roda.

Das distâncias



Queria compreender o porquê da distância das estrelas. Todas as noites ele ia RELIGIOSAMENTE até sua janela admirá-las. Mas elas sempre estavam longe, no infinito. Tão longe que, em alguns dias, desapareciam de sua vista. Talvez por isso fossem tão bonitas, talvez por isso fossem tão brilhantes. Talvez, se vistas de perto, perdessem um pouco de sua beleza, de seu encanto. Quando se vê de mais perto, se vê com os olhos da verdade, com detalhes. E então, aquela admiração toda que a movia e a motivava sumiria. Por mais cruel que fosse, ela preferia a ilusão. Preferia continuar admirando de longe, preferia continuar na expectativa, preferia a falsa felicidade.
É uma opção.