segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Lascívia



Quando percebi, lábios vermelhos e sanguinolentos há muito já amarravam minha cintura. Apertavam as costelas.
Laceravam-me.
São lábios voluptuosos, olhos lascivos. As mãos angelicais percorrem todas as nuances dos meus caminhos. A cada toque, cáustico. Ela sorve da minha saliva com a ponta dos dedos. Traça paradoxos em meus ombros. Desce esguia pelos meus seios, envolvendo terras íngremes com as mãos inteiras. Ligeira, não tem pressa. Demora-se a se acelerar.
É como um mundo então vira, em órbitas revoltas de magnetismo obsceno. Mordaz.
É como se consome um múltiplo ser, corrói e digere a carne fresca.
Minhas coxas não têm forças para se aproximarem uma da outra. Ela se aproveita do espaço para terminar a descida. Os dedos certeiros se entocam, para dentro e para fora. Ela cria linhas irregulares, moles e delirantes. Ela desenha círculos e arabescos com a língua. Ela faz chover sobre a terra úmida, evaporando cada gota logo em seguida, em seu próprio tempo desconexo.
O prazer é irrefreável, insuportável, irresistível.
Os dedos saem como cortes profundos na pele. Ela sobe sem desencostar a língua. Percorre. Sobe, como cobras que começam a cantar. E fere.
Lúbrica.
Ela se deita sobre mim. Seus seios se encontram com os meus, deslizando um sobre o outro, para cima e para baixo. Suas coxas se entrelaçam com as minhas, apertando-se e molhando-se em cada ondulação concupiscente. Pele sobre a pele.
Entretanto, sinto.
Sinto o pulsar da constrição dos meus órgãos. Sinto os nós que envolvem cada articulação.
Sinto os olhos lascivos cortarem minha respiração. Tento buscar o ar, mas ele não alcança os pulmões. Ela se deleita. Minhas mãos procuram o sangue que escorre das minhas costelas, dos lábios voluptuosos. Ela pulsa.
Não consigo aguentar. Preciso de ar.
Ela goza.
E, a cada contração, perco um pouco mais de mim.



Eu tenho medo do que resta.

Mas esta.
É a última vez.