quarta-feira, 19 de abril de 2017

Uma louca aventura em Hell's Kitchen


Eu havia chegado de uma longa viagem para negócios em Hell's Kitchen, cidade da qual ouvira muito falar aonde cresci e posso com toda certeza afirmar que a maior parte das histórias não era boa. Enquanto me dirigia ao hotel em um táxi aproveitava para olhar a paisagem diferente do meu habitual e a chuva forte chegou de repente, quando paramos em frente ao Holiday desci rapidamente com minha maleta sobre a cabeça para evitar que me molhasse completamente e corri em direção ao saguão, fiz meu check-in que pareceu demorar uma eternidade e fui direto pro quarto que era tudo o que eu queria, para minha surpresa acabei ficando em um dos mais altos e isto foi um alivio, com o barulho todo do trânsito o que eu mais precisava era um pouco de silêncio.

Fiz tudo que tinha de fazer e resolvi pedir um drink para relaxar antes de começar a mexer na papelada, a noite ainda não havia acabado pra mim, na verdade ela só começara. Depois de colocar meu pijama e tomar minha margarita era hora de colocar mãos à obra, sentei-me na mesinha, abri meu notebook, peguei as pastas com toda burocracia da empresa, a caneta e fui assinar a primeira folha, mas antes mesmo de tocar no papel a luz apagou, o rádio desligou e se não fosse pela luz da tela eu estaria totalmente no escuro, todo brilho das placas e outdoors sumiram, só era possível ouvir buzinas e gritos irritados de uma cidade que nunca dorme.

Sem me mover esperei na cadeira por uns 15 minutos e surpreendentemente nenhum gerador foi ativado e nem a força voltou, me levantei em direção à porta de vidro da sacada, seria uma escuridão total lá fora se não fosse pela luz da lua cheia e as sirenes da polícia e emergência, eu me perguntava se isso era costume ou um fato inédito quando tudo tremeu e um estrondo enorme pode ser escutado vindo dos arredores da cidade, depois disso não me surpreendia nada ter "Inferno" no nome deste local, porém a luz voltou e minha responsabilidade com os negócios também. Passei algumas folhas, rubriquei muitas outras e quando me dei conta já eram duas da manhã, deixei tudo como estava e fui até ao banheiro, quando voltava pro quarto ouvi um barulho na escada de emergência, parecia que alguém havia caído e eu não tinha certeza se deveria ir olhar, afinal essa cidade possuía fama de perigosa.

Mesmo com curiosidade deitei-me e enquanto eu puxava o edredom ouvi batidas na janela, agora que eu não conseguiria dormir mesmo, eu estava praticamente na cobertura, o que poderia ter caído do céu que soubesse bater na janela? Pulei da cama e ia direto ao telefone quando ouvi uma voz de homem pedindo ajuda, eu não sabia se deveria chamar o pessoal do hotel ou correr para ajudar, mas meu instinto escolheu ver o que estava acontecendo. Ao abrir a janela um homem grande e alto saltou para dentro como um vulto e enquanto me virava para ele não conseguia tirar meus olhos de todo aquele sangue no carpete, contudo acabei levantando minha cabeça e ao olhar para ele eu não podia crer que tudo o que ouvi durante minha adolescência e tinha certeza de ser só historinha de Super-Heróis se tornava real naquele momento, o Demônio de Hell's Kitchen estava ali de pé em minha frente!

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terça-feira, 11 de abril de 2017

Metades



Era junho. Fazia frio e os ossos doíam como o coração partido que batia no meu peito, mas eu não queria que soubesse que a vermelhidão nas maçãs do meu rosto não era um efeito do clima. Eu tinha decidido que não ia mais me envolver, mas no meu interior eu sabia que eu ia, porque eu SEMPRE deixo de cumprir as coisas, eu não as deixo pela metade mas ao mesmo tempo não existe fidelidade nas minhas palavras e ações. Procurei por alimento, uma bebida quente. A música animada no fundo fazia as minhas veias comprimirem ainda mais, o sangue corria depressa e eu não sentia nada, senão um vazio imenso dentro do peito. Eu chorava e ele viu. Saudoso, carinhoso, ele posicionou as mãos em meu quadril. A música tocava cada vez mais alto e ele me arrastou pelas mãos na rua, acariciando meu cabelo. Ele me beijava. De início, eu sentia a ternura, mas o meu coração doía, negava. Atravessei a rua de volta, ele me seguiu. Fiquei de lado, a música estourando meus tímpanos. Procurei abrigo. Senti as mãos em meu quadril, movendo-se para meus braços, os dedos entrelaçados. Eu encolhi e experimentei a violenta reação. Congelei. A porta se fechou. A janela não se abria. Os beijos já não eram carinhosos. Havia lascívia em cada toque, desabotoando avidamente a camisa de seda. Eu negava, mas a voz não saía. A minha pouca força já não era suficiente para suprimir o medo. Eu estremecia com o toque dos dedos gelados em minha pele, o semblante maldoso, lascivo, imperioso, triunfante. E o meu asco. A negativa era persistente e muda aos ouvidos dele, meus olhos se fechavam e eu só conseguia relembrar os detalhes, como se eu me obrigasse a reviver aquele momento para sempre, porque eu merecia, porque eu SEMPRE deixo de cumprir as coisas, eu não as deixo pela metade, mas, ali, eu me deixei.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

De Repente 40



Era mais um dia normal em minha vida, eu costumava desenhar nas horas vagas sobre meu grupo de RPG e fiz um desenho da casa do Peter Pan [...] já era tarde, fui me deitar e antes de dormir estava como sempre conversando com o pessoal e a conversa tomou um rumo no qual todos igualmente idealizavam uma coisa, que Paralelobruki e nossas histórias no RPG, assim como nossas características lá fossem reais. Eu (Chapeleiro Maluco no grupo de RPG) disse "Nossa já pensou se isso fosse verdade?!" e Son (Amailson, Robin Hood no grupo de RPG) respondeu "Vamos todos desejar e quem sabe não se torna real...", em seguida todos foram dormir.

No dia seguinte acordei com um despertador tocando e logo ao abrir os olhos deparei-me com uma cabeceira cheia de coisas, nada ali era meu, estava em um lugar desconhecido e ainda por cima havia um braço de mulher sobre meu tórax. Espantado e sem saber se deveria ou não me mover eu acabei virando e me deparei com Cruella de Vil, neste instante eu me perguntava "WTF?!".

Delicadamente retirei seu braço para não acorda-la, levantei silenciosamente e fui procurar o banheiro do qual não fazia ideia de onde era, digamos que encontrei sem maiores dificuldades, ao entrar não sei dizer se me espantei mais com o ENORME espelho que pegava a parede de canto a canto ou com minha nova aparência. Eu havia me tornado um homem de 40 e tantos anos, barba cheia e cabelos na altura dos ombros, toquei em meu rosto e ao constatar que era tudo real depois de me dar uma beliscadinha dei um grito que acordou Cruella. Rapidamente ela apareceu na porta, estava vestida apenas com uma camisa branca masculina, após me olhar dos pés a cabeça disse "Calma amô, o que foi?" (era sua linda voz com sotaque britânico, mas em português não fluente, algo do tipo estou aprendendo agora).

Envergonhado diante dela disfarcei e disse que não era nada não, ela então me informou que estávamos atrasados para ir à inauguração das novas salas de trabalho na casa do Elton (Peter Pan no grupo de RPG) e do Devthy (crush do Elton na época), porque antes ainda tínhamos que passar no antigo prédio que estava prestes a desabar para pegar as coisas que ficaram faltando. Son e Giulia (Ariel no grupo de RPG) estavam nos esperando, já Marcela e Júlia (Elsa e Anna, respectivamente, no grupo de RPG) já haviam passado por lá cedo e a mineirinha (Julia, Zelena a Bruxa Má do Oeste no grupo de RPG) ligou informando que estava perigoso de mais lá e acabou ficando presa no elevador.

Fomos ao prédio e salvarmos a mineirinha em seguida ficando todos presos no outro elevador, aquele lugar estava horrível, por sorte meu irmão apareceu antes de desabar tudo e nos salvou a tempo de irmos à casa do Elton que estava lotada, todas as pessoas do grupo, dos memes que usávamos no grupo (isso inclui até a amada Inês Brasil), todos outros personagens de OUAT (fora a Cruella que estava comigo), famosos que a gente gostava, enfim... Um MONTE de gente. 

Logo que desci do carro acompanhado da Cruella, Luan (Charming ou Príncipe Encantado, como quiserem, no grupo de RPG) veio me cumprimentar e disse "Nossa quanto tempo Lo, vejo que esses anos te fizeram bem e parabéns pelo casamento, sinto não poder ter ido, minha mulher estava em trabalho de parto no Japão" em seguida ele me apresentou o filhinho dele que era um pestinha lindo e logo entrei em direção ao Elton que me apresentou minha nova sala. [...] aquele dia em festa logo se passou, mal nos demos conta e estávamos praticamente um dia festejando, muita gente bêbada, apagada e muita gente já havia ido embora também, sobrou mesmo algumas pessoas do grupo e familiares.

O filho do Luan quebrou um vaso da sala da Giulia e ele pirou, o Son havia dado um triciclo para o menino e após quebrar o vaso ele ainda derrubou Kathy Bates da escada, a mineirinha começou a fazer farra com sprays de carnaval sujando a escada, o pessoal, sujou tudo [...] A Cruella estava na minha sala fazendo sabe Deus o que e eu encontrei a Keh (Cruella de Vil no grupo de RPG) depois de muito tempo naquela mansão gigante e o Elton e o Jr. (Glinda a Bruxa Boa do Sul, vaca leiteira ou como queiram, no grupo de RPG) vieram puxar conversa com a gente. O Devithy chegou e pegou o Elton pela gola da camisa e disse "Vamos Elton, precisamos transar" e o levou pro quarto enquanto Elton nos dizia que a casa era nossa e deveríamos aproveitar a festa, logo o Jr. saiu de mansinho e disse bem baixinho "Não quero atrapalhar." e neste mesmo momento Tony (Branca de Neve no grupo de RPG) e o Renato (August o Pinóquio no grupo de RPG) chegaram bebassos, a Cruella apareceu para me salvar e disse "Amô vem cá agora". 

Sai disfarçadamente e ela me levou para o banheiro onde fizemos amor e depois ficamos no chão no qual havia um carpete SUPER macio para bebermos pra caramba até que apaguei. Quando acordei tive um estalo e convoquei a todos que eram meus amigos do grupo para irmos direto para minha antiga casa (no caso aqui onde moro) e assim fizemos, não era muito longe, e foi bem rápido de madrugada, chegando corri para procurar aquele desenho que eu havia feito na noite antes de tudo acontecer, afinal para mim aqueles anos todos surgiram de repente, achei numa caixa em meu antigo quarto e vimos que ele era idêntico a casa do Elton, então todos se olharam e eu perguntei "Vocês lembram?" (me referia à noite da conversa antes de tudo) e todos afirmaram "CLARO".

Eu me questionava o porquê de ninguém ter dito nada, mas aos poucos me esclareceram que só estavam seguindo em frente com as informações que lhe eram dadas, era tudo tão bizarro, mais de 20 anos se apagaram no meu eu presente ou nem se quer existiram.
Ao pegar a folha de desenho na mão caiu um pozinho que deduzi ser mágico e o Son disse "Bom temos a escolha de tentar voltar ao pass...", ele mal terminou a frase e geral gritou "NÃO, DEIXA COMO TA!!!". Voltamos pra casa do Elton e acabamos descobrindo que tudo que eu colocava em desenho virava real, o que ele escrevia de certa forma também se tornava realidade, não nos seus best sellers, mas se tornavam realidade quando se tratava de Paralelobruki, pois o próprio Elton havia escrito algumas histórias partindo do desenho que fiz naquele mesmo dia. Ao retornar à mansão deitei-me novamente no chão do banheiro ao lado da Cruella que nem havia acordado ainda e voltei a dormir...