domingo, 22 de novembro de 2015

Rato na roda


O despertador toca anunciando mais um dia.
Lá vai ela levantar-se mais cedo do que o necessário para cumprir seus afazeres, repeteco de sempre, rato na roda.
Involuntariamente, a cada dia que passa, mostra mais um pouco de seus espinhos.
Acontece que, naquele dia, eles foram expostos de tal forma que geraram cicatrizes, das quais não se tem prévia de desaparecimento.
Entre aquelas vozes interiores e exteriores, sua única segurança foi por ela dispensada, sem ao menos pensar que talvez, mais tarde, fosse necessária.
E foi, minutos depois.
Mas nada mais poderia ser feito.
Naquele momento, ela viu tudo desmoronar, em câmera lente, intensificando seu sofrimento diante da realidade dura e inevitável.
Não havia nada que a segurasse, nada que a mantivesse presa a chão, nenhuma âncora: navegava "até o mundo se dobrar, sumindo no horizonte".
E então, aquela situação que parecia durar para sempre acabou de súbito, seguida por uma dor aguda e por um medo daquilo que já passou que a dominava de tal forma que parecia que a cada segundo a sensação era revivida, repeteco de sempre, rato na roda.