quinta-feira, 28 de julho de 2016

Ser ou estar?


Ela sempre foi assim. Aliás, sempre esteve assim. (Importante diferenciar ser/estar). Acho que estar por tanto tempo acabou criando a crença de que ela sempre fora assim. E ninguém jamais conseguira resolver o problema que ela era. 
Ela era como uma granada, pronta para explodir.
Mas ninguém sabia. Por fora, sempre aparentou tranquilidade, serenidade, felicidade e todos os -ades- que remetam a qualquer coisa feliz ou positiva. Organização era com ela mesma: desde os fios de cabelo até horários de rotina, tudo sob seu controle.
Ah, as aparências!
Mal sabiam todos que por dentro ela era uma bagunça sem fim, o ápice da desorganização. Mal sabiam todos que ela por dentro se magoa, se entristece, se enraivece.
E eles não podiam saber.
Ela sempre foi considerada como forte. Como exemplo. Como referencial. Todo o tempo, em todos os lugares. Ela jamais poderia deixar isso transparecer. 
Em lugar nenhum.
A situação se tornava uma bola de neve, sem qualquer ocasião em que ela pudesse se libertar dessas correntes. E então, ele aconteceu.
Em verdade, ele já estava presente por algum tempo, mas sua presença em momento algum tinha revelado toda a luminosidade que carregava dentro de si - isso porque ele era muito bom em esconder. 
Àquela hora, tudo parou, e ela não podia acreditar.
Finalmente, ela poderia se libertar de tudo aquilo que a transformara em um outro alguém. E ser ela mesma, sentir verdadeiramente. De repente, a felicidade parecia mais próxima e a esperança enchia seu coração.
De repente, a vida tornou-se mais leve.