sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Cartas à Severina XII


Senhora Severina,
Vejo-te à porta alheia, a bater e azucrinar. Tentando, em vão, entrar no coração alheio. Vejo-te apenas pelas costas, apenas as tuas costas curvadas e cansadas de esperar, teu tropeçar bêbado enquanto vai e volta par a porta alheia, teu cigarro pendurado nos dedos, no vai e vem que o vício lhe impõe.
Por tuas costas, vejo uma velha viciada e incômoda que atrapalha a vida de alguém. No entanto, quero ver-lhe o rosto, quero saber quem realmente é.
Desculpe-me a intromissão, não desejo ser desagradável, quero apenas ajudar um alguém aparentemente forte, que sempre vi como uma muralha, mas que, através de um pequeno bilhete, mostrou-se talvez uma muralha corroída por dentro, podendo cair a qualquer momento.
Um alguém intrometido.