quinta-feira, 9 de maio de 2019

Cores Fluídas



Eu vi o carmim escorrer pela parede. Obsceno. Ele escorre. Fios finos de lenta viscosidade. Linhas vermelhas de um horizonte indisciplinado. Ele se estica e se encolhe como se tivesse todo o tempo do mundo para ser ele mesmo. O carmim arrasta decisões confusas de acordes dissonantes, porque ele não precisa ser natural e certo. Ele não precisa de hierarquias monárquicas. Ele não precisa fazer sentido.
Ele só continua fluindo, até que se torne um róseo vagarosamente determinado, embora talvez dormente. Entorpecido. Deitado sobre espirais rodopiantes infinitas. Empoçado. Espalhando-se por toda a superfície, sem preocupações, sem delimitações, porque suas bordas se tornam mais longas a cada segundo em que insistem em se deixar. Fluir.
E afundam. Permeiam sombriamente em um púrpura profundo. Consolidam. Formam mil flores em dó menor. Ele não se demora e não se contém, porque ele pode fazer crescer um bosque inteiro de árvores despretensiosas. Um bosque arroxeado delirante, onde quem caminha não sabe pra onde vai. Mas vai mesmo assim.
E cai. Mas não cai inconsciente. Cai, porque quer cair. Flutua entre o tempo e o espaço em um negro vibrante. Escuro. Quente. Dança com os dedos e com as filosofias e com os olhos e com os ideais. Dança uma música que nunca foi dançada. Ecoa em silêncio.
Em silêncio.
Em silêncio.

Um silêncio inquebrável feito do mais puro ébano.
Escuro, como uma noite dançante.

Sem estrelas.