segunda-feira, 6 de março de 2017

Os 7 contos - A História de Amor (Parte III)


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A princesa não dizia uma palavra se quer durante toda a noite, nem se quer ao ter dançado com o rapaz, Joseph V se divertia em meio à embriaguez com sua amiga enquanto seu pai já estava junto a seus amigos, se é que alguém daquela família falava algo eram as crianças que logo se misturaram com as de outros reinos e as rainhas que trocavam algumas palavras sobre seus filhos.

Joseph IV pouco bebeu para que não perdesse seus sentidos, à noite fora passando e pouco a pouco os convidados iam embora, alguns outros, no entanto eram encaminhados a seus aposentos pelos servos, afinal muitos vinham de locais distantes. O rei que já havia perdido as estribeiras em meio ao álcool veio até o filho sucessor e pensando que estava a falar baixo no ouvido do mesmo “ordenou” que este levasse a princesa para seu dormitório e fizesse um filho nela.

O jovem quase ficou surdo de tão alto que seu pai gritara e imediatamente os pais da moça que se encontravam na mesa sóbrios se ofenderam tanto quanto a própria, o príncipe ficou aliviado de não precisar ser nenhum tipo de Ogro para não ter de se casar com ela, seu pai desfizera seu próprio arranjo. Totalmente sem graça a família Fryguest logo se retirou a seus aposentos, e óbvio que o príncipe nem se quer pensou em ir se desculpar ou socializar-se com a princesa, afinal tudo que ele queria era que aquilo desse errado como de fato aconteceu.

Joseph V cada vez bebia mais para abater a saudade de Laura e logo apagou ali mesmo, sobre a mesa, e então Kathelyn foi até seu irmão Joseph IV pedir ajuda para carregar-lhe ao quarto. Logo antes do dia amanhecer os convidados que ali passaram a noite assim como a família Fryguest foram embora, e olha que os Fryguests foram os primeiros a se retirarem enquanto as corujas ainda cantavam.

Quando os jovens finalmente acordaram todos já haviam partido, Joseph V quase teve um infarto, pois ao acordar e virar-se deu de cara com as costas de uma jovem nua de cabelos alaranjados no qual em meio a sua tontura pensou ser Laura e abraçando-a foi beijar-lhe, para seu espanto somente quando ela virou viu que era Kathelyn e só então se deu conta da situação. Ele de pronto pulou da cama e notou que ainda possuía as roupas intimas, mas logo perguntou a moça o que havia ocorrido ali e ela falou que tiveram uma maravilhosa noite de amor.

O príncipe deu um murro em sua cama que quase lhe abriu a mão ao meio e disse que apesar de bêbado ele se lembrava de algumas coisas e não, ele não havia feito sexo com ela, desesperado e em meio aos berros ele falou sobre a amizade de infância deles e questionou o que ela pensava que estava fazendo. A moça em meio às lágrimas confessou que de fato eles nem se quer trocaram beijos e que aquela fora uma tentativa falha, e então ele perguntou o que ela queria com tudo aquilo, disse-lhe também que a relação deles não passava de amizade e exigia saber desde quando a jovem passou a sentir algo por ele.

A princesa que não parava de chorar falou que nunca sentira nada por ele além de amizade, só que ela estava enfrentando algumas “coisas” e por pior que toda aquela situação fosse sendo sabido que poderia perder sua amizade, numa atitude impensada e em meio ao desespero ela decidiu aproveitar da embriaguez do amigo tirando suas roupas para dormir ao lado dele, enganando-o dessa forma que tiveram uma noite juntos.

Joseph V perguntou em meio à fúria que diabos aquela mulher estava pensando e que “coisas” eram essas que precisavam de tal atitude indigna para conseguir, e em resposta ela lhe contou que engravidara do tratador de cavalos há aproximadamente um mês. Contou também que seu pai mataria o jovem se soubesse, e como a família de ambos era amiga e o rei amava Joseph ficaria mais que feliz em unir os reinos, apesar de ela ser apaixonada pelo garoto do estábulo a mesma não se importaria de casar para manter as aparências e que ambos tivessem suas vidas particulares fora do matrimônio.

De pronto o príncipe renegou toda aquela situação e disse que jamais se casaria se não pelo amor verdadeiro, em seguida pediu que ela tomasse coragem de contar ao seu pai, mesmo que para isso fosse preciso do apoio dele e do irmão, afinal ambos estavam passando por histórias bem parecidas. Em meio às lágrimas a jovem pediu-lhe perdão e então ele ordenou que ela se vestisse. Assim feito ele a abraçou e falou que sempre foram amigos, comentou também que como nunca antes houvera sido de necessidade mentiras entre eles que assim permanecesse.

Ambos saíram do quarto e foram até Joseph IV pedir-lhe ajuda, em seguida partiram ao encontro do pai dela que viera busca-la e esperaram ela contar tudo para ele que num momento ficara furioso e partira pra cima da moça, então os jovens seguraram o rei Annastor e vosso pai pediu para que seu amigo de longa data se sentasse com ele e conversassem sobre o assunto.

Todos se dirigiram a sala do conselho numa atitude inesperada de vosso pai que só a usara para assuntos do mesmo e se sentaram, não chamaram a rainha e tão pouco o irmão sucessor de Kathelyn ou seus outros irmãos, surpreendentemente o rei expôs a Annastor sua opinião, o que não era de costume fazer e para a surpresa dos irmãos falou sobre a normalidade desse tipo de casal “diferente” atualmente. Após horas de conversa ele também comentou sobre os costumes que mudaram com o passar do tempo e que o seu amigo não deveria se preocupar tanto, ela não era sucessora ao trono, que deixasse a jovem ser feliz com o garoto do estábulo.

Admirados com toda aquela situação e vendo o rei Annastor abraçar sua filha e chorar falando de seu herdeiro, Joseph IV se empolgou levantando-se num ímpeto impensado para falar com seu pai e então seu irmão que percebeu puxou-o de volta ao assento antes que o rei notasse que tinha algo que o jovem gostaria de falar. Ao saírem da sala do conselho a princesa veio agradecer aos irmãos e pediu que ambos fossem padrinhos de Annastor VIII, claro que eles aceitaram e então ela completou: - Meus amigos arrumem logo damas e lhes deem os mais belos vestidos, logo Annastorzinho estará entre nós meus queridos.

A realeza de Kythyng partiu e os irmãos saíram para caminhar um pouco por seus jardins antes de arrumarem as coisas para viajem, Joseph IV perguntou ao irmão por que tendo visto a atitude do pai para com a amiga dele não deixou que falasse de sua vida. Joseph V que apesar de mais novo era mais sábio logo respondeu: - Oh meu irmão, a filha não é dele. É fácil falar do que é dos outros, garanto que não vai aceitar tão fácil quando souber de seus garotos.

O irmão então pensou um pouco, abaixou a cabeça e disse em resposta que era provável que o rei não aceitasse tão facilmente mesmo, enquanto caminhavam ao entardecer no jardim Joseph IV pediu ao irmão que saíssem para viagem de caça à bruxa um dia antes do combinado e que estes então encontrassem com os soldados no bosque do Açafrão no dia correto, porém para o rei a viajem de fato seria na manhã seguinte devido à mudança de planos.

Joseph V perguntou ao irmão aonde é que iriam passar o dia, e ele respondeu que com sua família, porque assim como os soldados que poderiam não voltar o destino dele poderia ser o mesmo e ele gostaria de apresentá-los ao irmão para que também este soubesse onde ficava a casa. Se a morte houvesse de chegar para si o mesmo contou que tinha uma gorda fortuna guardada para que o irmão entregasse a sua esposa e filhos.

O príncipe disse ao irmão que jamais deixaria que nada acontecesse com ele e que parasse com tamanha baboseira, pois o mesmo voltaria para levar sua família para o verdadeiro lar, o castelo. Seu irmão lhe fez uma pergunta em seguida: - De quantas guerras participaste? E então a resposta foi que nenhuma, e então ele argumentou: - Participei de duas meu irmão, pode parecer que não, mas lutar com essa bruxa é mais que uma inquisição. Vi homens que nunca voltaram para seus lares, muitos tinham fé em seus Deuses que nada aconteceria e nem se quer despediram-se de sua família.

Quase chegou a escorrer uma lágrima do rosto de Joseph V ao pensar em sua amada e seu filho, e então ele prometeu ao irmão que iria com ele ao encontro de sua família, mas que o traria de volta mesmo que isso custasse sua vida. O irmão disse em resposta que ele já havia tido filhos e aproveitado muito da vida, talvez não da forma que um dia imaginara, mas ele sim não tinha tido filhos e nem se quer vivido o suficiente e se de fato dependesse da vida de alguém para que algum voltasse para casa era a dela que ofereceria, pois tinha certeza que seu irmão de sua família cuidaria.

Logo foram aprontar as malas e antes mesmo do nascer da manhã eles partiram e claro que o rei assim como a cavalaria fora avisada de todo o plano, estes então seguiram para a Vila dos Umitaian aonde era a segunda casa de Joseph IV, um lugar não tão longe do reino quando Joseph V imaginava que fosse.

Chegando lá as crianças vieram correndo e chamando pelo pai, lágrimas então escorreram dos olhos de Joseph V que se lembrara da rosa que deixaste em seu quarto. A esposa de seu irmão que estava a colher alguns legumes da horta ao chegarem veio de encontro ao marido deixando a cesta cair ao chão e então lhe beijou com a saudade de quem não o via há tempos.

Joseph IV apresentou o irmão de quem tanto falara durante anos para eles, seus filhos ficaram admirados com ele e disseram que quando crescessem queriam ser tão belos quanto ele, sua filha por vez disse que queria conhecer um príncipe encantado de cavalo branco como o tio para se casar e todos então caíram na risada com a doce criança.

Logo após as apresentações oficiais Margary os levou para dentro e apresentou o singelo aposento ao qual ficaria seu cunhado em seguida indo preparar o jantar. Joseph V galanteador como sempre elogiou o cheiro da comida de sua cunhada e fora brincar com os sobrinhos, todos foram jantar depois e passaram a noite conversando e se divertindo, mas logo adormeceram e a manhã seguinte chegou, o dever os chamava.

A despedida de Joseph IV era sempre um tormento para si, e este se despedira da família como quando fora para sua última batalha no qual Lucyus ainda era um bebe e Katheryn estava na barriga de sua mãe. Margary disse para eles que os esperava em sua volta triunfante e Strayker veio correndo até o tio e pediu que o mesmo o treinasse para ser um cavaleiro da realeza, o tio caiu em lágrimas e disse que com toda certeza ele ainda seria Sir. Strayker. Joseph IV abraçou sua esposa, beijou-lhe a testa e pediu que continuasse a trancar bem a casa e ficar com as crianças até o nascer do sol.

Eles então partiram para o bosque do Açafrão ao encontro dos soldados, quase ao anoitecer lá estavam eles que não podiam parar, noite adentro viajaram pelo reino, até que chegaram à gruta dos Trolls. De fato só tivera esse nome por lendas criadas pelos homens segundo os irmãos, então armaram seu acampamento para que desancassem e pudessem seguir viajem no dia seguinte, lá também possuía um pequeno riacho do qual poderiam se banhar.

Alguns homens foram preparar o jantar, outros lavar-se no riacho, Joseph V apenas se sentou em frente à gruta e olhando para dentro de sua escuridão só podia pensar em Laura e no quanto seu coração desejava vingança a essa bruxa que com certeza tinha algo envolvido com sua amada. Após algum tempo observando e a noite chegando ele notou alguma coisa, ou algumas se movendo lá dentro e então correu para chamar seus homens.

Sir. Thomaz era conhecido por seu interesse ao sobrenatural e todo tipo de lenda e este então disse que eram Trolls e brincou: - O que mais esperavam encontrar na casa deles? Alguns homens riram enquanto outros ficaram apavorados como Joseph V e então ele completou: - São seres pacíficos atualmente, sobraram poucos deles, basta não invadir sua gruta e deixar alguns coelhos para eles que estará tudo certo.

Joseph V pegou o irmão pelo braço e correu atrás de coelhos, depois de algumas horas conseguiram capturar três, os assaram e deixaram pendurados na entrada da gruta. Sir. Thomaz fez outro comentário que não agradou a muitos: - Me lembrei! Eles gostam de meias, um costume que aderiram de seus primos com o tempo e notaram que era bom para aquecer seus pés na gruta úmida. Sir. Craserfith disse que jamais iria dar suas meias, seus pés iriam ficar acabados de cavalgar apenas com as botas e com todo aquele calor da armadura teria calos.

O restante dos homens assim como os príncipes não ousou dizer uma palavra se quer e Sir. Thomaz disse: - Bom eu prefiro calos que minha garganta cortada, observe as meias que estão ali jogadas perto dos rios e veja que não estou mentindo. Isso causou uma discussão e antes que um partisse para cima do outro Joseph V gritou: - Não vai haver garganta nenhuma cortada, e ninguém vai pagar para ver, eu preciso de todos vocês. Honrem vossos títulos e um calo há mais ou menos não os fará diferença.

Todos tiraram suas meias, pegaram também as meias reservas em suas malas de viagem e as que estavam a secar colocando-as na porta da gruta. Já era tarde da noite e foram dormir em suas barracas, no entanto dois cavaleiros se negavam a dormir e permaneceram estes tomando conta do acampamento.

Naquela madrugada os dois homens que fizeram a ronda disseram que puderam observar aqueles seres mágicos dos quais Sir. Thomaz contara, e que criaturas intrigantes e feias eram. Sir. Drackiry contou que logo ao ser possível, em meio ao silêncio da noite, ouvir os roncos de todos os presentes ali no acampamento tirando de seu companheiro Sir. Jullyus, os Trolls saíram da gruta.

Eles os descreveram exatamente como os mesmos eram retratados nas fábulas infantis e nos contos de horror, sendo difícil até de se acreditar, disseram ser da altura de homens altos como Sir. Kyrlay (este era conhecido como “O Nefestro” que era o nome da montanha mais alta dos arredores de Natuland), eram fortes e musculosos assim como ele também ou até mais, não possuíam nenhum tipo de cabelo ou pelos, pelo contrário estes tinham calos e verrugas na pele, lembravam até crocodilos.

Os dois Sirs. até tremiam ao relatar aquela história, o acampamento era desmontado enquanto falavam para poderem partir em viajem novamente, alguns homens riam, outros anotavam, os príncipes e mais alguns no entanto apenas ouviam como se estivessem a imaginar tudo aquilo em suas mentes. Sir. Craserfith que era encrenqueiro como ninguém nunca viu disse que eram tudo histórias pagãs e que parassem de blasfêmia, os rapazes que eram ricos nos detalhes e que passaram a noite a alguns metros do acampamento pediram que ele fosse então pegar de volta os coelhos e as meias se de fato nada existia.

Ao chegar à entrada da gruta as únicas coisas presente lá eram a cesta vazia e os ossos dos coelhos espalhados pelo chão, Sir. Craserfith ousou dizer que eles que comeram os coelhos, esconderam as meias em algum lugar e que não iria mais perder seu tempo. Para a surpresa dos presentes que prestavam atenção em tudo que acontecia como os príncipes ao Sir. Craserfith virar-se e dar três passos uma pequena pedra veio voando como se fosse tacada com muita força por alguém de dentro da gruta e ao bater no seu elmo foi suficiente para atordoa-lo e derruba-lo.

Os príncipes juntamente de outros três homens que estavam de pé ali e observaram tudo correram até Sir. Craserfith para lhe ajudar, olharam ao redor e nada de pedra, mas quando o levantaram, Joseph V que estava por trás viu algo cravado em seu elmo e pediu para que o tirasse. Ele então ainda meio que tonto tirou e entregou ao príncipe que conseguiu remover a pedra do mesmo, e para a surpresa deles aquilo estava longe de ser uma pedra, de fato parecia algum tipo de unha ou dente meio esverdeado, mas a sua consistência era de uma pedra.

Os homens que até o momento diziam-se tão incrédulos quanto Sir. Craserfith saíram correndo assim como o mesmo e montaram em seus cavalos, o príncipe então perguntou em meio a risadas se o Sir. Craserfith queria coloca-la num colar e levar para sua casa, o mesmo rejeitou imediatamente. Sir. Tomaz que observara tudo de longe falou ao jovem príncipe que as histórias contavam que quando se possuía algum objeto pertencente a um ser mágico este possuía de alguma forma poderes ligado ao seu dono e se ele não quisesse ficar com o mesmo ele aceitaria de bom grado.

Intrigado com tudo aquilo e cheio de entusiasmo como o mesmo sempre fora disse que ficaria para ele, pegou então alguns fios de palha da costa de um tapete e teceu uma espécie de colar na qual amarrara o objeto como pingente. Ele colocou em seu pescoço logo em seguida e seu irmão pediu que prosseguissem viajem, pois estes já perderam muito tempo.

Eles cavalgaram por dois dias sem descanso, e ainda se encontravam há mais alguns de distância do penhasco de Juhdora, porém a lua cheia seria somente uma noite após chegarem ao local conforme o planejado. Eles se encontravam agora num lugar chamado desfiladeiro do matador, e precisavam montar acampamento para que descansassem pelo menos aquela noite, lá não possuía água, nem recursos ou animais para que se alimentassem, pelo contrário era uma espécie de deserto em meio à floresta que talvez por esse fato tenha ganhado o nome de matador.
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