segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O nó


Engulo seco. Jamais pensara dessa maneira e agora estava sendo obrigada a absorver a enorme quantidade de informações que penetrara por meus olhos e ouvidos, percorrendo meus neurônios, cerebelo e todas as coisas complexas de biologia, glote, epiglote, e não-sei-qual glote e então estacionou em minha garganta.
Ora, o nó.
O nó que todos carregamos no peito, aquele que, na tentativa de retirada, tornava-se úlcera. Será o nó o obstáculo à felicidade? Ou será a dor a verdadeira manifestação da mesma? Digo, começo a acreditar que não passe de ilusão. E talvez a existência resuma-se a isso mesmo, talvez a felicidade não exista e talvez o canto dos passarinhos seja em vão. Talvez o sol drene nossas alegrias, talvez sua quase que diária aparição na amplidão destes céus seja apenas uma garantia de que em algum lugar do mundo houvesse sorrisos para serem sequestrados e permutados por raiva, medo e angústia. Ou talvez por nada, talvez apenas pereçamos com aquele vazio no peito. Mas nada importa, o nó se constrói sempre, inabalável.
E assim se faz a rotina da vida, se constrói a doce ilusão que se parte diante dos nossos olhos. A frustração manifesta-se diante dos sonhos inalcançados, diante de tudo o que poderia ter sido e não foi. Ou não poderia, mas eu gostava de pensar que sim, de pensar que eu tinha uma chance, de acreditar que as minhas insistentes tentativas um dia fariam sentido. Eu gostava de pensar que a minha vida podia ser importante, que eu teria meu lugar no mundo. Eu gostava de pensar que algum dia eu seria feliz, que esse nó desapareceria, que eu dormiria uma noite (apenas uma!) sem me preocupar com nada. Eu gostava de me iludir.
Eu gostava, porque assim era possível sentir levemente a sensação que eu tanto busquei em minha vida. Mas desisti. Desisti, e por isso me encontro aqui.
Não.
Me encontro aqui porque é onde deveria estar e me encontro aqui até que um sopro apague minha existência, e então todos os anos, no dia 2 de novembro, receberei vasos com crisântemos coloridos que enfeitarão meu leito, onde estará escrito meu nome e uma data, minha identidade, que logo desaparecerá como uma leve brisa.